sábado, 9 de novembro de 2024

Hoje eu vi o meu filho apanhar muito e fiquei feliz de ver

Meu querido filho Benício,

Ahh filhinho! (suspiro)… Você não ganhou nenhuma hoje…

Hoje, vi você passar por uma experiência que me tocou profundamente. Quero que leia essas palavras com calma, quando os desafios da vida ou os momentos de frustração do futuro o fizerem sentir-se derrotado. Pode ser uma carta longa, mas prometo que a cada linha, você vai sentir o amor e a admiração de seu pai.

Ah, meu menino, o que vi hoje foi algo que, de certa forma, me fez muito feliz. Você entrou nessa nova academia de Jiu-Jitsu depois de mais de um ano parado. Quando fez as aulas em St. Catharines, ainda era uma criança se divertindo numa brincadeira. Por isso, talvez tenha sido até um choque perceber como as coisas funcionam agora em Welland. Crianças focadas, treinadas por um campeão mundial, com uma mentalidade coletiva de competição. Meu menino de 10 anos, grandão para a sua idade (mas com a faixa cinza e branca)… Então o mestre o colocou numa turma de crianças mais velhas, ali no meio dos grandes. Um festival de dificuldades… uma seguida da outra… E a cada queda, meu menino me olhava com um olhar de frustração e um pequeno riso de vergonha… Colocava seus joelhos no chão para se apoiar e, com o corpo exausto, tentava se levantar, molhado de suor!

Me parecia que queria chorar e desistir… eu o entenderia se você fizesse isso naquele momento! Mas você queria mostrar ao papai, pelo menos, uma única vitória. Me apertava o coração, mas eu sabia que aquelas eram as suas batalhas e tudo o que eu poderia fazer era torcer e enviar o meu olhar apaixonado e carinhoso para que você sentisse o calor do meu afeto.

A cada nova queda, Benício, você mostrava mais esforço, mas também mais resiliência. Eu via seus olhos brilhando de frustração, quase lacrimejando, com um leve sorriso de vergonha e decepção. Teus braços foram torcidos (duas vezes), te estrangularam, te derrubaram com força, golpes que você jamais imaginou. A cada desafio, você se levantava, molhado de suor, cansado, os joelhos no chão, buscando forças para tentar novamente. Vi, em seu olhar, a tentação de desistir, mas também vi a determinação de seguir em frente, não se deixar abater, e mostrar, ao menos, uma vitória para o papai.

Sei o quanto você queria essa vitória, mas à medida que a aula avançava, você foi ficando mais e mais cansado. Os adversários menores e mais leves começaram a sentir-se mais confiantes para te desafiar nas batalhas e, ainda assim, os reveses continuaram. Eu estava ali, observando, e naquele momento, pensei em mim mesmo. Quando cheguei no Canadá, eu também passei por dias difíceis. Você se lembra, cada noite empurrando o carrinho no Walmart, chegando em casa totalmente destruído, com vontade de chorar e voltar para o colo de minha mãe. Cada novo dia parecia uma dificuldade. Eu me sentia cansado, desmotivado, mas, como todos, sim, temos escolhas. A qualquer momento, podemos decidir desistir, mas algo dentro de nós nos estimula a tentar ao menos mais uma vez, talvez com uma nova estratégia, com um novo adversário, um novo aprendizado… um segredo, um truque, uma nova sabedoria ancestral revelada num sonho. Era preciso continuar. Cada revés me empurrava para a próxima tentativa, para o próximo passo, mesmo que pequeno.

Assim como você, eu sabia que era necessário cair e tentar de novo. E, assim como você, meu filho, nossa tendência é seguir em frente. E foi assim que me tornei o homem que sou, nada especial, é certo, mas sei que, para a minha trajetória de vida e para minha família, de alguma forma, sou um herói, cheio de bons parceiros, é claro. Sei que, naquele momento, você se sentiu derrotado, mas eu vi algo muito mais importante: vi você levantando-se a cada queda. Vi você se esforçando mais do que nunca, buscando, sem desistir. Isso, para mim, foi a verdadeira vitória.

Não tive dó nem piedade de suas jornadas e suas escolhas… ao contrário, fiquei muito feliz com isso! Te ver ali no tatame… sendo meio que massacrado com gentileza e esportividade, me fez te ver como um homem que luta, cai e se levanta. Se você sentiu a chateação de não conseguir me presentear com uma vitória, talvez tenha achado que fiquei decepcionado. Mas NÃO, meu filho! Seu pai está muito orgulhoso do que viu hoje. Muito mais do que se você tivesse vencido todas as batalhas. Pois eu te vi levantar de todas as dificuldades e tentar, tentar e tentar de novo!

Acho que você ainda não entende completamente, mas, naquele tatame, eu vi a essência do que significa ser forte. Não é sobre ganhar todas as batalhas. Não é sobre chegar em primeiro. É sobre levantar a cabeça, mesmo quando tudo parece perdido, e tentar novamente. Isso me encheu de orgulho, muito mais do que se você tivesse vencido todas as lutas. Eu vi um homem em formação, alguém que entende que a vida é feita de ciclos, de altos e baixos, mas que sempre será mais forte depois de cada queda.

Você é um menino com uma alma intelectual, Benício. Sabe disso. Não é o mais atlético ou o mais rápido, mas sua força está na sua mente, no seu jeito de lidar com as pessoas, na sua gentileza e, principalmente, no seu esforço para melhorar. Vi isso em todos os aspectos da sua vida: no futebol, na patinação, nas corridas. E em cada uma dessas atividades, você tem uma coisa que muitos não têm: a coragem de tentar. Em meu coração, não importa te ver chegar em último, o pior colocado é o que não se propôs a competir. O pior é nunca tentar.

Por isso, quando você sentir que está sendo derrotado, ou quando a vida parecer dura demais, quero que se lembre desta carta. Lembre-se daquela aula de Jiu-Jitsu, onde você lutou como um verdadeiro guerreiro. Lembre-se de como, apesar de não ter ganho nenhuma luta, você não desistiu, levantou-se e tentou novamente. Isso, meu filho, é o que realmente importa. Eu nunca vou me importar em te ver sempre vitorioso, mas sempre vou estar orgulhoso de ver você levantar a cabeça e tentar de novo, independente do que aconteça.

Me encheu o coração de segurança imaginar que esse é o processo que a vida vai usar para te lapidar como o herói de sua própria vida e de sua própria família.

E isso vai nos aproximando um do outro e do ideal de ser humano que necessitamos nos dias de hoje.

Teu pai te ama involuntariamente… como qualquer pai! E mais do que isso, teu pai te admira por tudo que você tem se transformado.

Enfim… a aula terminou. Você com olhar de decepção, molhado como se tivesse saído do chuveiro! Ensopado no suor de seu esforço.

Ao sairmos, no caminho para o carro, eu disse: - Caraca, Beni… Que dia difícil, hein? Não ganhou uma! E você, ainda ofegante, respirou e respondeu com um certo orgulho, sem se deixar abater: - Não, papai, eu empatei duas! Eu sorri disfarçadamente, pensando que eu que não percebi bem cada detalhe das lutas e talvez eu nem entenda tanto de Jiu Jitsu.

Eu sei que, muitas vezes, o caminho pode parecer difícil, mas é essa trajetória que vai te moldar. Não importa onde você chegue, mas sim quem você se torna enquanto está tentando chegar lá. E, no fim, isso vai te aproximar cada vez mais da pessoa incrível que você está se tornando.

Teu pai te ama profundamente, mais do que palavras podem dizer. Mas, além disso, te admiro muito, Benício. Vejo em você uma força que poucos têm, e cada dia vejo você se transformando num homem melhor, mais forte, mais gentil. Isso é tudo o que um pai pode desejar para o seu filho e o que o mundo pode desejar em um homem.

Com todo o meu carinho,


Teu pai.

(Novembro de 2024)


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